Reflexões

Quando a Fonte Seca (bloqueios criativos, crise profissional, etc)

Tem um tempinho que eu não escrevo por aqui. Na verdade, é porque eu não tinha parado pra refletir sobre nenhum assunto que eu achasse interessante o suficiente pra compartilhar com vocês. Além disso, dei uma pausa no projeto do mochilão — e tem me feito muito bem. Tenho cuidado mais da saúde, me recolhido um pouco… Mas hoje eu queria comentar sobre algo que eu tenho experimentado na minha vida — e que só fui perceber recentemente, quando comecei a ler o livro O Caminho do Artista.

Foi a primeira vez que vi com tanta clareza uma correlação direta entre fé, espiritualidade e criatividade.

Eu trabalho na mesma área há quase uma década. E tenho certeza de que uma das coisas que me fizeram não ter bloqueios criativos durante muito tempo foi a minha capacidade de enxergar beleza nos pequenos detalhes. Ver ritmo, paleta de cores, hierarquia, proporção, simetria, texturas… Na própria vida.

Como eu costumo dizer: Deus é o maior designer de todos. E enquanto eu buscar n’Ele a minha referência, tenho certeza de que serei capaz de criar coisas incríveis. Mas O Caminho do Artista me fez entender algo ainda mais profundo: Minhas habilidades não são minhas. Elas são graças concedidas por Deus. E através delas, eu posso passar a mensagem Dele.

Não estou dizendo que eu vá usar o design pra pregar ou recitar versículos por aí. Mas todas as vezes que eu coloco meus dons a serviço de alguém — pra ajudar, pra orientar, pra direcionar — eu sinto uma energia vital muito surreal.

Por outro lado, como também trabalho com isso e não posso viver apenas de projetos filantrópicos, percebo que quando começo a me preocupar demais com o dinheiro no fim do mês, o bloqueio criativo aparece. O cansaço chega. A indisposição se instala. E eu começo até mesmo a duvidar das minhas próprias habilidades — mesmo tendo tanto tempo de estrada.

É um caminho complicado esse de equilibrar vida profissional e conquistas materiais com espiritualidade e virtudes. Tentar ser uma pessoa melhor, mais consciente, menos pecadora (porque merecedora a gente nunca é)… Nesse momento específico que estou vivendo, tem sido conturbado conciliar tudo isso.

Como já disse várias vezes, eu sou workaholic. Eu acredito profundamente que disciplina e constância nos levam a lugares inimagináveis. Mas ultimamente tenho me sentido cansada. Uma procrastinação estranha, uma indisposição sem sentido. E, num primeiro momento, pensei que fosse alimentação, falta de exercício… Mas eu estou comendo bem. Estou me exercitando. O que falta é aquele ímpeto. Aquele impulso de correr atrás, de conquistar como antes.

E aí percebi: no início, eu tinha energia porque amava o que fazia. Porque eu fazia para servir.
Eu colocava Deus na frente de tudo. E isso gerava um loop infinito de criatividade:

Eu criava → ajudava alguém → recebia um feedback → ficava empolgada → criava mais.

Só que, quando comecei a me preocupar com “será que isso vai dar dinheiro?”, com “será que vou conseguir bater as metas?”, essa naturalidade, essa fluidez na criação deu lugar a algo mais rígido, seco, sem flexibilidade.

Minha criatividade foi esgotando. Meu ânimo foi secando. E aí fez sentido.


Se a minha criatividade vem da conexão com Deus, se os meus dons são ferramentas dadas por Ele para eu contribuir com o mundo, então no momento em que eu me esqueço desse propósito e começo a pensar só no dinheiro — mesmo de forma não gananciosa, mas preocupada — eu inverto a ordem das coisas.

E a fonte seca.

A fonte só seca quando a gente se desvia do propósito. Se Deus nos concede tudo… então, afastados d’Ele, nós não somos nada. Foi bom ter percebido isso. Porque agora sei que dá sim pra ser uma pessoa responsável, que pensa no futuro, que estuda finanças, negócios, investimentos. Isso também agrada a Deus. Mas antes de qualquer coisa, o foco precisa estar nele. No impacto positivo que geramos. No servir. As outras coisas virão como consequência de uma servidão bem feita e bem-intencionada.

Mas não se enganem: pra mim ainda é difícil.
Equilibrar o “isso é minha missão” com “meu Deus, preciso pagar as contas” é um dilema real. Quando a rotina começa a ser tomada por muitas reuniões, muitos estudos, correria e menos Deus, menos silêncio, menos diálogo… Não adianta. Esse caminho não funciona.

Eu nem sei qual é exatamente a moral dessa reflexão. Porque não quero que soe como: “Não se preocupe com amanhã, que Deus vai prover.” Não é isso.

A gente tem que se mover. Tem que ter ambição. Crescer não é ruim. Dinheiro não é ruim.

O problema é quando a gente coloca tudo isso na hierarquia errada.

As coisas só funcionam quando colocamos Deus no centro. Se tudo que acontece de bom é uma graça concedida, então nosso foco tem que ser:

  • Agradecer.
  • Servir.
  • Melhorar.

E só depois pensar nas coisas do mundo.

Sim, é possível ser uma pessoa ambiciosa, trabalhadora, apaixonada por negócios…
Mas só se antes de tudo, Deus for prioridade. Antes de acordar pensando no próximo trabalho, na próxima campanha, na próxima reunião…
É joelho no chão.
É mãozinhas unidas.
É oração.

Porque senão,
a fonte seca.

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