Comportamento

Quem é você quando tem liberdade?

Eu tenho pensado muito sobre como, quando viajo, acabo descobrindo novas versões de mim. Não versões que eu necessariamente aprove ou desaprove, mas versões que, na verdade, só se revelam porque eu sou exposta a novos contextos, novas possibilidades, novas referências. No meu dia a dia sou introspectiva, quando viajo sou super extrovertida e crio amizades facilmente. Isso me fez perceber que muitas coisas que eu acredito que fazem parte de quem eu sou, na verdade, só estão ali porque vivo em um ambiente que condiciona essas partes de mim. É muito fácil e cômodo me definir como X quando estou inserida em um cenário onde só posso ser X. Como saberia que sou extrovertida se não saísse de casa? Pois é.

Isso me leva a pensar sobre liberdade, escolhas e como manter congruência com os meus valores em meio a essas descobertas. Eu sou cristã e presto muita atenção para que minhas atitudes sejam condizentes com quem eu quero ser. Para mim, a liberdade não significa sair fazendo o que quiser de forma inconsequente. Pelo contrário, acredito que a liberdade serve justamente para regular nossas ações, porque é ela que nos ensina que nós mesmos colhemos os resultados das escolhas que fazemos.

Mas aí surge a pergunta: como explorar outras culturas, viver experiências completamente novas e abrir a mente sem ferir meus princípios ou trair meus valores? Não é fácil. Se eu presumir que o meu jeito de demonstrar fé é o único correto, estaria automaticamente condenando qualquer pessoa que nasceu em uma cultura diferente, como se não houvesse salvação para ela. Isso me parece uma presunção perigosa.

Acredito que Deus não condenaria alguém por ter nascido em um lugar onde Ele não é cultuado como é aqui no Brasil. Isso me leva a refletir que a liberdade de explorar o mundo e me expor a essas novas experiências não deve me afastar do meu propósito, mas precisa ser usada com sabedoria para não me perder no caminho.

A liberdade que aprisiona

Algumas pessoas, ao se depararem com uma janela de possibilidades, simplesmente se jogam, sem considerar o impacto das escolhas que fazem. É como se a liberdade, em vez de libertá-las, as aprisionasse. Elas acabam em vícios, em comportamentos destrutivos, presas em ciclos que elas mesmas criam.

Isso me faz pensar que a liberdade está diretamente ligada ao nível de maturidade. Uma criança, por exemplo, não pode ter liberdade total porque não tem bagagem suficiente para lidar com as consequências das escolhas. Por isso, precisa de adultos que a guiem e protejam. Da mesma forma, existem adultos que, apesar da idade, não têm maturidade para lidar com a liberdade e, quando têm, acabam se autodestruindo.

Quem somos quando ninguém está olhando?

Quando essas inseguranças me surgem — como a de me perder em novas experiências ou de trair quem eu sou —, eu tento me perguntar: Quem sou eu quando tenho liberdade?

Quem sou eu quando ninguém está ali para me apontar o certo e o errado? Quando não há pressão social ou expectativas externas sobre mim? Se a resposta a essa pergunta não for alguém em quem eu confio ou admiro, talvez seja hora de limitar minha própria liberdade até que eu tenha maturidade suficiente para lidar com ela.

Um exemplo básico disso foi quando decidi morar sozinha. Meu único objetivo era me tornar uma pessoa mais útil e sabia que só chegaria a esse ponto se me colocasse sob pressão, sem ninguém para resolver as coisas por mim. Eu sabia que precisava da dificuldade para aprender.

Mas essa liberdade só foi boa porque eu estava pronta para ela. Sabia o que queria alcançar e usava a dificuldade como ferramenta de crescimento. Para quem não tem essa clareza, a liberdade pode ser destrutiva. Morar sozinho, por exemplo, pode levar algumas pessoas a viverem sem rotina, sem propósito, entregues a vícios e más escolhas.

Isso não significa que essas pessoas nunca poderão lidar com liberdade. Tudo depende da vontade de evoluir. A liberdade exige que a gente enfrente a dor e o desconforto de se conhecer e lidar com nossas sombras.

A fuga da realidade

Hoje em dia, parece que nosso estilo de vida é todo baseado em escapismos. Tudo vira uma forma de fugir da realidade. Mas qual é o problema com a realidade? É justamente ela que nos molda e nos prepara para usar a liberdade de forma saudável.

Eu cheguei à conclusão de que, neste momento, tenho capacidade de explorar outras culturas e ainda manter a minha essência. Tenho maturidade para me manter no meu propósito, mas também para entender que, às vezes, esse propósito pode mudar — não por modismo ou fuga, mas porque algo novo pode fazer mais sentido.

Mesmo assim, nunca estamos blindados contra o risco de nos perder. E a única forma que encontro para evitar isso é refletindo constantemente sobre quem eu sou, onde estou, onde quero chegar e o que faz sentido para mim.

Se você está tranquilo demais na vida, sem nunca parar para questionar suas ações, sinto te dizer: provavelmente você já se perdeu em algum lugar.